Agora são três horas da manhã (dia 06/10/2009), contudo não consigo dormir pensando numa cena inusitada que me ocorreu hoje, por volta de 15h...
Estava eu sentada no “Parada Cardíaca”, conversando com uns amigos, quando eu vejo dois jovens correndo na nossa direção. Um deles passou por nós muito rápido e pulou o muro atrás do Parada. O outro correu em direção aos fundos da Unidade Tomaz Tomasi. Logo em seguida, veio um policial militar (soldado Bicalho) correndo atrás deles com a arma na mão. Ele seguiu o que correu para os fundos do campus gritando: “para seu cachorro, filho da...”. E ele correu atrás do rapaz, com a arma apontada para ele (não sei como ele não deu, pelo menos, um tiro para assustar o rapaz, e a nós, claro). Depois ele e um segurança da UFES retornaram sozinhos (pois o jovem conseguiu escapar). Vi um terceiro segurança interino falando que este era o segundo assalto do dia nas redondezas.
Muito foi falado após o ocorrido entre os que presenciaram a cena e terceiros, com quem comentamos. Ouvi que um policial militar não tem permissão de entrar nos domínios da UFES “atrás de ninguém”, por se tratar de uma área federal (logo, ele não tem permissão para tal feito); do outro lado, ouvi que se for a caso de uma perseguição que de seu fora do local – porém que o fugitivo usou como rota de fuga tal local – o policial poderia adentrar os domínios federais.
Discussões a parte, o que me preocupa é ver o nível da criminalidade na nossa cidade, a forma como os “criminosos” são tratados pelos policiais (detentores legítimos da verdade) e como a população se porta diante dos fatos.
Quantas coisas acontecem a metros de distâncias de nossas salas, mas não nos damos conta, pois a matéria é para prova dessa de sexta e nada mais no mundo nos importa naquele momento? Eu sou uma cidadã direita, não cometo crimes, sou uma estudante da área da saúde e me preocupo com a saúde da população; se o “moleque” roubou, o policial não está fazendo nada além o trabalho dele e está certo por isso!
Que saúde nossa população possui se no meio da tarde ela é vítima de assaltos em ruas movimentadas, se os oficiais tratam os “criminosos” como os dejetos da sociedade? O soldado xingou muito mais do que ouvi ele gritar em alto e bom som. Se o policial tivesse pego aquele rapaz, existe uma probabilidade enorme de que o jovem apanharia bastante (seja ele merecedor ou não disso) antes de ir parar atrás das grades.
Você gostaria de apanhar de homem que nunca te viu antes, que tem o dobro do seu tamanho (por mais que você tenha feito algo errado), só por que ele está fardado e você não?
Esse rapaz poderia ter sido vítima de um atropelamento durante a fuga, você enfermeiro o receberia como? Como o trataria se soubesse o que ele havia feito? A função do enfermeiro é cuidar e a do policial, de certa forma, também não é a mesma?
O que é saúde? O que levou esses dois jovens a cometer este crime?!
Estamos nos matando de estudar, trancafiados em salas de aula em média oito horas por dia, para aprender os procedimentos? Para saber de cor e salteado todas as etapas do clico de Krebes? Para tirar nota dez? Para fazer iniciação científica e “adiantar o lado” do Mestrado? Para pensar e discutir saúde, e, dessa forma, como seres sociais (e formadores de opinião), promover a cultura do social coletivo e ter a consciência de que – apesar dos nossos sentimentos interiores – o bandido que assalta é tão “gente” quanto nós que pagamos nossas contas em dia?
Todas as respostas têm o seu lado positivo. Não existe uma correta e somente esta. A dúvida que permanece no ar é quantos dos que lerem este texto até o final terão as mentes cheias de indagações e questionamentos sobre os seus conceitos de: saúde, justiça, humanização, estudante, profissional da saúde, etc.
E a maior de todas as dúvidas é: se alguém se indagar, quem terá a coragem de “correr atrás” de modificar os conceitos, de não aceitar o mais fácil e cômodo, por que dá menos trabalho?
E... é melhor eu ir dormir porque amanhã tem aula e a prova é semana que vem, eu preciso ESTUDAR antes de qualquer outra coisa...
Paula Rocha
Coordenação de Comunicação
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